Piso Tátil: Acessibilidade fora e dentro de casa

Moradora de uma casa térrea ampla, com rampas, pisos e mobiliários pensados para facilitar a circulação de cadeiras de rodas, a cadeirante Catarina Cardoso Panício não avalia que tenha a mesma facilidade de locomoção no transporte público e em alguns estabelecimentos de São Paulo, cidade onde mora. “Uma vez fui na Liberdade almoçar com o meu namorado, quando chegamos no local o único banheiro acessível ficava no andar de cima, que só tinha acesso por uma escada”, conta a jovem sobre experiência vivida no bairro da capital paulista, conhecido pela culinária oriental.
Já na casa da deficiente visual Dayane Alves do Santos, o mandamento é não mudar os móveis de lugar, pois é assim que ela se orienta quando se movimenta pelos ambientes. “Quando eu perdi a visão, aos 10 anos, fui estudar em um internato e voltava para casa nos finais de semana. Numa das voltas, minha mãe tinha mudado tudo de lugar, o que, além de impedir minha localização, causava pequenos acidentes”, conta. Com a orientação do Instituto de Cegos Padre Chico, que se dedica à educação de crianças e adolescentes deficientes visuais em São Paulo, a família de Dayane aprendeu que é preciso fazer um tour pelo espaço com o cego, toda vez que algo muda de lugar.
No que diz respeito à cidade, Dayane avalia que a questão da acessibilidade tem se construído de uma forma abrangente e ampla. “O piso tátil é uma bela conquista. Antes, só existiam em estações de Metrô, terminais urbanos e edifícios públicos, e hoje eles já estão presentes em calçadas e prédios privados também. Isso facilita muito a mobilidade”, comemora.
Com 45 milhões de pessoas com algum tipo de deficiência, de acordo com dados de 2019 do IBGE (Instituto Brasileito de Geografia e Estatística), o país conta com a NBR 9050, conhecida como norma de acessibilidade, que dita as diretrizes para construções acessíveis. Segundo a Secretaria de Estado da Pessoa com Deficiência de São Paulo, além de seguir as normas técnicas, os projetos devem também seguir princípios como uso equitativo, ou seja, que possa ser utilizada por qualquer pessoa, independente de suas características físicas ou intelectuais.
Apontado por Dayane como uma ótima ferramenta de acessibilidade, o piso tátil começou a se popularizar no Brasil com o decreto nº 5.296/2004, que estabeleceu a obrigatoriedade do revestimento em prédios e áreas públicas. Em 2011, o Metrô de São Paulo surpreendeu seus usuários, inclusive os cegos, quando iniciou a instalação das peças em suas estações.
Com uma grande variedade de acabamentos, texturas e cores, os revestimentos podem ser utilizados como ferramenta de acessibilidade ou para garantir uma maior segurança a pessoas com diferentes graus de deficiência visual e mobilidade.
O azulejo Poente, da Eliane, tem textura e cores marcantes, podendo auxiliar na construção de casas mais acessíveis
A arquiteta Bárbara Dundes tirou o conceito do papel e elevou o status dos revestimentos para muito além do revestir e decorar, e os transformou em ferramentas de acessibilidade. Em um de seus projetos residenciais abusou das cores e texturas para proporcionar um ambiente, de fato, completo.
Bárbara escolheu peças coloridas para facilitar a mobilidade e a localização de uma cliente com baixa visão. “Investimos em cores contrastantes em todo o interior da casa para que ela percebesse o volume dos móveis. As texturas também desempenharam um papel importante, já que a cliente é muito sensível ao tato”, conta Bárbara.
Para ela, questões como a acessibilidade devem ser pensadas durante os projetos residenciais, uma vez que a casa é para a vida inteira. “É preciso pensar em soluções integradas entre arquitetura e design de interiores para um lar aconchegante e seguro para todos aqueles que vivem nele”, afirma.







