Entre anéis e projetos: a arquitetura que Celso Rayol carrega nas mãos
As paisagens cariocas parecem até ter saído de um livro de fantasia. Corcovado, Pão de Açúcar e o calçadão de Copacabana são alguns dos cartões-postais mais emblemáticos da cidade maravilhosa. E, se fossemos relacionar a um romance, um dos personagens principais com toda certeza seria o arquiteto Celso Rayol, um dos cocriadores da Eliane neste ano. Não só pelo apelido “O Senhor dos Anéis”, inspirado na saga homônima de um dos romances literários mais celebrados do mundo, mas por seu estilo singular – uma bossa nova diferente.
Celso expressava sua autenticidade desde a adolescência. Nascido em Volta Redonda, as roupas já apresentavam sua personalidade marcante. Na fase adulta, os anéis, tornaram-se uma de suas assinaturas visuais; tradição que iniciou com a primeira compra da sua coleção de acessórios em 2011 – um anel desenhado pela designer de joias Mônica Pondé. Além disso, roupas como quimonos e blazers, tornaram-se peças indispensáveis no seu closet. “Eu gostava de tudo que era diferente do que os meus amigos gostavam. Isso sempre foi muito forte para mim. Se as pessoas estivessem com roupas coloridas, eu usava preto. Eu não queria ser mais um”, comenta.
Rayol vê seu estilo como um símbolo de entendimento do mundo. Entre suas peças favoritas, dois anéis não saem de seus dedos: Faces, assinado pelo designer e amigo, Marcelo Novaes, e Protection, um acessório criado também por Mônica Pondé. Para ele, o adorno vai muito além de enfeitar as mãos ou de se vestir bem. Representa momentos importantes que transformaram sua vida. “Este renovar no olhar da vida foi um impulso para que a moda despertasse em mim. Entendia a moda como um caminho transgressor, onde você movimenta a energia que você mostra para o mundo”, afirma.
Anéis com assinatura própria
Com o passar do tempo, o apreço por acessórios masculinos evoluiu. Incentivado por suas próprias referências e a liberdade de ‘arquitetar’ joias, Celso passou a desenhar sua própria linha de anéis, criando uma marca chamada M.u.t.u.a.l – um termo que traduz diretamente as mudanças ocorridas em sua vida.
Assim como a arquitetura, a moda também é um reflexo de sua jornada pessoal. As peças usadas no seu dia a dia são um diálogo visual da beleza que ele enxerga de diferente no mundo, e das histórias e significados que estão por trás desses objetos e roupas. Assim, a curadoria passa por um processo artesanal. Celso cria intervenções em suas roupas, buscando projetar elementos de sua identidade, carregadas de simbolismo e alma carioca.
A moda não só reflete o gosto pela pesquisa, mas influencia seu processo criativo como arquiteto. “Eu acho que os adornos me ajudam muito na curadoria de peças que vão ambientar os projetos. Essa combinação entre roupas e acessórios, que acabo experimentando em uma escala menor, me ajuda a também vestir os ambientes.”
Reconhecimento internacional
A Coleção Milo, cocriação entre Eliane e Cite Arquitetura, do qual Celso é sócio junto com Fernando Costa, por exemplo, reflete uma parte deste aspecto. Inspirada em referências do passado e presente, o olhar investigativo busca uma coerência visual e emocional com os ambientes que moramos, unindo camadas de histórias e significados.
Este ano, a coleção recebeu dois prêmios internacionais de design, incluindo o reconhecimento do Tile Brasil e da revista Azure. Concorrendo com renomados designers, como Patricia Urquiola, Milo conquistou o júri popular com sua singularidade e autenticidade, destacando-se pelo design próprio e visão contemporânea do escritório brasileiro. “O bacana disso tudo é levar a coleção Milo para outros lugares fora do Brasil. E, quando concorremos com quem a gente admira e se inspira é espetacular. Reconhecemos o olhar contemporâneo de uma cerâmica dos anos 60. Premiamos não só o produto, mas a história também”.
Por fim, arquitetura e moda andam lado a lado no trabalho de Celso Rayol. É um discurso que traduz sua consciência como cidadão do mundo – e o que incentiva a desbravar coisas novas. “Quando a gente mostra nossa verdade, é muito fácil tocar o coração das pessoas”, finaliza.