
Oficina Brennand, um passeio surreal

Repleta de esculturas, templos, murais cerâmicos, pinturas e desenhos, a Oficina Cerâmica Francisco Brennand é um “passeio surreal”, tamanha a beleza e unicidade do lugar situado no Nordeste do país. As obras espalhadas entre os jardins, lagos e espelhos d’águas que descem até as margens do Rio Capibaribe, em Recife, tendo ainda como pano de fundo uma parte da antiga Mata Atlântica, transformam o espaço em uma atração turística das mais frequentadas.
Local de referência da cerâmica brasileira, a oficina foi idealizada por um dos maiores escultores e ceramistas do Brasil, o pernambucano Francisco Brennand, 89 anos, nas ruínas de uma olaria. Ao longo de décadas a olaria se transformou em um conjunto arquitetônico monumental de grande originalidade, em constante processo de mutação, onde a obra se associa à arquitetura para criar um universo profundo e mitológico. A Oficina Brennand possui mais de duas mil esculturas distribuídas, além das inúmeras pinturas do artista, em 14 mil metros quadrados.
Tradição na cerâmica
Francisco Brennand vem de uma família tradicional de empresários de cerâmica. O pai Ricardo Lacerda de Almeida Brennand fundou a Cerâmica São João da Várzea, em 1917. “A Cerâmica São João da Várzea teve sua fabricação encerrada em meados dos anos de 1940. Daí em diante, a fábrica permaneceu fechada, só trabalhando com um único forno que produzia tijolos refratários para caldeiras de usinas e altos fornos de siderurgia. Foi como artista plástico e pesquisador que tomei posse dessa velha fábrica de telhas e tijolos para nela instalar meu atelier de trabalho que, muito oportunamente, chamei de oficina”, conta Brennand.
A presença do artista num trabalho contínuo de criação confere à Oficina Brennand um caráter inusitado. Os trabalhos de Brennand nasceram após muitas pesquisas realizadas pelo artista, resultando em uma técnica surpreendente. “Descobri que os fundamentos da matéria que eu buscava se encontravam no processo de repetição das diferentes passagens pelo forno do material cerâmico. E foi sobre esse material que eu elaborei os meus murais”, completa o artista, vencedor do maior prêmio que se confere na América do Sul a um artista plástico, o Prêmio Gabriela Mistral.
Obras mitológicas
O artista trabalha a cerâmica não só com a forma, mas também com a cor. Obtém uma grande quantidade de tonalidades por meio das variações de temperatura que atuam sobre os pigmentos durante a queima das peças. As esculturas de Brennand apresentam o caráter de tótens, ou se relacionam a signos da tradição popular.